Corre. Finge que é poesia. Mares e vales, neve e sussurros em francês. Hoje estamos todos presos no albergue, porque lá fora chove. Deve existir um amor assim, puro silêncio, pura preguiça de falar mais alto ou de molhar os dedos na água fria pra lavar a louça. Se alguém espiar sobre o meu ombro enquanto escrevo, fará a gentileza de não entender uma só palavra. Ou tudo se pode deduzir? Sim?, não?, sim, não, sim, músicas legais. O livro me faz meditar. Me faz viajar. Um bosque, a eterna bem-amada, as folhas secas, tudo é muito outono. Talvez eu fosse mais feliz em outros termos, só que agora me lancei e vou adiante. Finge que é memória. Lobos marinhos pintados na porta, e a esta hora você está no trabalho. Por que você não toca música brasileira? Olha só, você vai gostar, sorrisos nas fotografias. Estou virando um rio, estou saciando a minha própria sede, estou limpo e revolto e nunca mais vou voltar, nunca mais, nunca mais, nunca, nunca, mais, mais. Não é permitido amar dessa maneira. É imoral, é criminoso amar dessa maneira – arrasto a lama e lixo e pedras, às vezes, sou assim. Só corre, finge que é metáfora. Só aprende. Só me encontra no meio do caminho. Hoje é segunda-feira e pelas minhas previsões eu deveria ser outro, mas talvez eu tenha me enganado. Talvez. Talvez. E quem vai escrever meu nome em outra língua? Mencionar nos seus relatos meus cabelos soltos sobre as páginas? Quem me ouviu, quem me acordou hoje cedo, me diz como é o seu nome, ou então dorme. Finge que sou eu que estou sonhando. Não é necessário que você saiba. Não é necessário que ninguém entenda. Nunca foi preciso que eu falasse. Nunca foi. Nunca. Nunca. Foi.
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