sábado, 30 de abril de 2022

Você diz que a estrada acabou, e eu só consigo 
Sentir falta de paisagens 
Nas suas palavras. 

Sabe, pra mim, se era uma estrada, 
Era por dentro de pomares, 
Campos de algodão, serpenteava 
Impossivelmente subindo encostas delirantes, 
Não tinha fim, no máximo 
Desaguava. 

Um tanto de vida que não se evapora assim 
Só porque um de nós começou a fazer aulas de java 
Às terças-feiras. 

Você diz que a estrada acabou, e eu não consigo 
Imaginar uma comparação menos apropriada. 

É que as estradas, quando terminam, 
A gente volta andando por elas. 

Não chame de estrada. 

É mais, na verdade, 
A julgar por como você fala, 
Como se nunca tivesse existido 
Nada. 

Esse lugar nenhum 
Onde não cabem nem lágrimas. 

Não, então, agora, 
Quem é este que sobrou aqui parado, 
O olhar perdido no vazio, 
Esse vazio por todos os lados. 

Você diz que a estrada acabou, e eu só consigo 
Reparar 
Que acabar mesmo não é coisa que aconteça 
Quando se trata de almas.

Um comentário:

Beti disse...

Suas poesias são lindas! Sempre fazem refletir…