Ao final de um dos meus piores dias, preparei a mochila para andar algumas dezenas de quilômetros até uma cachoeira e ver se assim eu me libertava, um pouco, daquela carga pesada e negativa do dia a dia. Na manhã seguinte, saí um pouco antes amanhecer calculando que, na pior das hipóteses, caso não passasse ninguém pela estrada disposto a oferecer carona, eu conseguiria chegar à cachoeira e voltar para casa ainda antes que anoitecesse. Mas era preciso acelerar o passo, e foi o que eu fiz.
Enquanto caminhava, junto com o vento e com a paisagem, via passarem pensamentos e sensações represadas durante muito tempo, músicas e histórias de tristeza ou guerra, situações imaginárias que eu encenava apaixonadamente em minha cabeça — talvez, às vezes, dirigindo algumas falas em voz alta para as árvores e para as pedras. Assim, até por volta do meio-dia, mal reparei na ausência absoluta de movimento na estrada, e só então comecei a me preocupar com o tempo que me restava, pois então pareceu que ele seria pouco para todos os meus planos.
Olhei em volta com atenção, agora calculando para qual lado estava a cachoeira e como eu poderia chegar a ela traçando uma linha reta, em vez de continuar seguindo pela estrada. Como nunca tive problemas de localização, confiei na estratégia e, de fato, em pouco menos de duas horas, alcancei meu destino e pude finalmente silenciar qualquer pensamento mergulhando na água fria de um belo rio selvagem. Instantes depois, deitado, à margem, exausto, tive uma ideia louca de nunca mais voltar para casa.
E a ideia virou decisão. Em vez de retornar à estrada ou seguir de volta o caminho que havia me levado até ali, apenas fui adiante, primeiro margeando o rio, até avistar um bom local para acampar naquela noite, e, no dia seguinte, segui direto e de uma vez por todas para o coração da selva.
Uma única vez questionei a decisão, alguns dias mais tarde, quando a comida foi chegando ao fim e eu ainda estava em uma região muito deserta para encontrar alternativas na natureza. Ironizava, em minha mente ainda conectada a ideias decadentes de uma velha vida, dizendo a mim mesmo que da próxima vez contrataria guias e carregadores para facilitar todo o trabalho, para depois, quem sabe, fazer sucesso entre uma "galera descolada" na internet falando mal de trilhas. Mas assim como as preocupações e aqueles pensamentos anacrônicos, as dificuldades acabaram passando, ou eu acabei me acostumando, não sei, de modo que os meses seguintes foram tanto mais fáceis quanto mais deliciosamente silenciosos em minha cabeça.
Passados três ou quatro anos, ainda, estranhei um pouco a ausência de pessoas e cidades por onde quer que eu fosse, e percebi que estava esquecendo as palavras e os nomes das coisas, vivendo uma vida em que a mera noção de "significados" já havia se desfeito completamente na superfície dos fatos. Dessa forma, dizer que "eu simplesmente estava ali" já é dizer demais; dizer que "nada mais precisava ou poderia ser dito" também já é dizer demais.
De modo que nem sei se foram realmente décadas mais tarde que afinal me dei conta de que não andava mais sobre o planeta Terra. De alguma maneira, em todas aquelas andanças, eu havia atravessado galáxias inteiras, e estava agora a milhares de milhares de anos-luz de onde havia começado. Ao olhar para trás, conseguia ver um rastro luminoso de estrelas, ainda quente e agitado pelos passos recentes. Mas ainda assim, naquela hora como em nenhuma outra, nunca houve paisagem mais bonita do que dali para frente.
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