Ali do outro lado estavam promessas petrificadas, seus olhos a meio caminho de se abrirem, eu imaginava, porque não restava outra coisa a fazer, que elas explodiam em risadas pela praia, o corpo cheio de vida e sal do mar, mas então a falta de pulsação gritava outra vez mais alto.
Quão longe eu tive que ir apenas para ver meus sonhos tão despedaçados, como se me faltassem mãos para cultivá-los, como se meu coração fosse menor, pior ou mais sujo que o de tantos outros em que os frutos transbordavam, se eu era o primeiro a preparar a terra com suor e afeto, primeiro a arrancar ervas daninhas, primeiro a acreditar, disposto e desperto desde muito antes do sol nascer.
Mas precisava não haver mais noites para que eu deixasse de sonhar, que eu não tivesse memórias, nem um corpo ou a poesia ainda quente em minha alma, então quem sabe eu deixasse de amar, se eu fosse um outro, talvez, se fosse menos como aquele que eu não era e que insistiam em apontar em mim.
Ali, ao alcance de um gesto, feito mármore, para sempre congeladas no ínfimo instante que antecedia sua existência, as esperanças todas, o mais puro bem, todo o sentido de sermos carne e de termos um nome, ou de vagarmos há milênios sobre esta rocha errante no espaço, aos poucos se desfaziam, esfarelando-se, arrastados pelo vento como se não fossem nada, até que já não fossem nada, um só nada, o nada, nada.
Mas precisava de muito menos que o nada para eu não ser.
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