sábado, 10 de setembro de 2022

Não era eu quem te ouvia, não fui eu que te acolhi 
Quando ninguém queria saber nem mesmo 
Que você existia? Não sou eu, então, 
Aquele que fortaleceu o teu espírito, 
Quem te ajudou a andar e a encontrar de novo 
O teu caminho? Pergunto 
Não porque eu queira de volta o que é teu 
E que talvez você não tivesse visto sem mim, 
Pergunto não porque esperasse um pagamento 
Sempre que forjava a tua alegria às custas 
De tudo o que deixei de experimentar e de viver, 
Não que fosse mais por mim 
Do que de fato para despertar a mesma força 
Que agora você usa para me ferir. Mas 
Me ferir? A mim, 
Por ser aquele que inundou teu coração 
De esperança, assim, como se eu fosse o mesmo 
Que primeiro o esvaziou? A mim 
Por ter segurado a tua mão, talvez, como se antes 
Tivesse sido eu quem te entregou à solidão, a mim 
Porque te amei? 
Fui eu, então, quem afinal te convenceu de que 
Acabou-se o amor no mundo 
Ou de que ele nunca poderá ser teu? 
Sou eu, agora, que te devo 
Algum pedido humilhado de perdão, reparação, maiores provas de 
Bondade? Que do vazio eu tire ainda uma vez mais 
O que te dê satisfação, se em troca de tê-lo feito sempre 
Você veio até mim com pedras nas mãos?

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