Não se pode dizer que algum dia
Chegaram ou chegarão a atravessar a vida
Você pode vê-los à margem, receosos até mesmo
De molhar os pés, a menos, talvez,
Que alguém fantasiado de autoridade (especialmente divina)
Diga tá ok então desta água bebereis
Mas só um pouco
Um bando de corvos e palhaços se alvoroça ao seu redor
Gargalhando de sua credulidade estúpida, enriquecendo
Às suas custas e ilicitamente a olhos vistos, enquanto
Disparam as ordens mais disparatadas
Agora jogareis esta água suja no cantil do vosso irmão
Agora sobre esta água deitarei um século de sigilo
Agora esta água é só minha
Que morram de sede, eu não sou coveiro
Odeiam sobretudo as almas livres, morrem de medo de ideias,
E do fato de que a água é simplesmente de todos
De que há água para todos
De que é possível mergulhar de cabeça e de que há mundos inconquistáveis nas profundidades
Por isso desperdiçam a existência construindo jaulas e empunhando armas de fogo
Ajoelhados diante de qualquer pedaço de lixo
Para onde os seus verdadeiros ídolos apontem dizendo ali está Deus
Não
Não se pode dizer que algum dia
Chegaram ou chegarão a amar
Apenas que compraram uma porção de afetos
E que os arrastaram às masmorras em que soterrados
Morrem décadas mais tarde discursando enfurecidos contra
Um suposto mundo lá fora
Onde rios imaginários
Vorazmente engoliriam seus tesouros embolorados se
Alguma vez
Sequer tivessem ousado se molhar
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