sábado, 19 de novembro de 2022

Eu naqueles labirintos verticais de Ouro Preto pensando se era possível me apaixonar mais por um lugar, acho difícil. Uma sensação de séculos quase pesando no peito, revestindo tudo ao redor com um brilho solene, mas também um colorido de agora, e algo como estar sempre nadando em direção à superfície embora o ar não falte. Às duas da tarde, eu já havia pensado na palavra "mágica" e ainda não sabia nem da metade.

Museus, igrejas, artes de tantos tempos se misturavam entre os paralelepípedos, um pouco de São Francisco, um pouco de inconfidência e ainda um pouco de versos pastoris, não sei por que pensei em Jéssica quando visitei a casa de Tomás Antônio Gonzaga, mas logo em seguida encontrei este escrito em uma parede:


Fazia uns sete meses que não eu não conversava com Jéssica, por pura inércia do dia a dia, e isso era um dos períodos mais longos que já tínhamos ficado sem nos falar. Nem sei por que a lembrança, mas fotografei aquele verso ainda pensando nela, um súbito nó de saudade apertando a garganta.

Acabei parando em um café-livraria ali perto, um lugar de ares sofisticados quase que só pelo prazer do contraste com tudo ao redor, e meu pensamento inquieto já tinha estado em milhares de épocas e de lugares desde a visita à casa do poeta. Aliás, já quase abria um caderno para escrever meus próprios versos quando chegou o café e eu lancei um olhar para a rua através da fachada de vidro, repousando no movimento de uma saia florida.

Nossos olhos se encontraram, e os dois levamos ainda um tempo para entender, acreditar, não sei, levamos um tempo para dizer o nome um do outro nas nossas cabeças e só então ficar absolutamente perplexos.

— Mas como? — foi só o que ela disse quando entrou na livraria.

Eu não saberia nem por onde começar a responder aquilo, mas não achei difícil de me contentar apenas com o abraço de Jéssica.

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