Acho que o que ele mais gostava era de gente que cuida da própria vida.
Gente que não atira pedras porque sabe que também tem pecado, gente que não fica falando de ciscos nos olhos dos outros tendo uma trave nos seus. E sabe quando ele disse que andava com pecadores porque quem precisa de médico é doente? O que não cola pra mim nessa história é que não tinha um mundo saudável e sem pecado fora dali. Acho que o que fazia ele deixar de andar com uma pessoa não era ela não precisar dele, não existia alguém que não precisasse. O problema era a pessoa não enxergar que precisava. Provavelmente porque estava ocupada demais cuidando da vida dos outros.
Ou porque vivia pendurada em livros de regras — também tem isso, ele não gostava de quem vive pendurado em um livro de regras. "Ai porque o livro 2, capítulo 15, versículo 22, parágrafo 9, inciso 24 diz que…" Não, amigo, não diz não, é você que está dizendo. E mesmo que dissesse, todo mundo sabe que você escolhe só uma regra ou outra no seu livro pra seguir. As regras que você escolhe pra seguir e as que ignora dizem muito sobre você. Mas o pior dessa história não é nem você seguir umas regras só porque sim e deixar de seguir outras por qualquer desculpa, é você achar que todo mundo tem que seguir as mesmas regras que você. Ou seja, no fim, mais uma vez, o pior é você ficar cuidando da vida dos outros.
Tem também a questão dos ricos, que ele disse que era mais difícil entrarem no céu do que um camelo passar no fundo de uma agulha. Um dia, ouvi dizer que fundos de agulha eram portas pequenas na entrada das cidades, e que, pra um camelo passar por elas, tinha que abandonar toda a carga e meio que rastejar. Mas mesmo que seja isso, ele disse que era mais difícil um rico entrar no céu, não foi? Mais difícil. E se for só isso, se é só abandonar a carga e rastejar, ainda assim, quer dizer que não existe rico no céu, porque ou a riqueza é abandonada, ou nada feito. Mas você não está lá batendo com seu livro na cabeça dos ricos pra dizer o que eles têm que fazer pra entrar no céu. Pelo contrário, eles são os seus modelos, seus heróis, os vencedores. Você come os restos da mesa deles, imita as aparências, segue as dicas dos coaches pra ser um deles. Enfim, as pessoas que você escolhe pra ficar se metendo na vida e as que considera exemplos também dizem muito sobre você, sabia?
Ah, sim, e com certeza, uma das coisas que ele menos gostava era violência. Não é verdade que ele andava desarmado porque não existiam armas naquele tempo, até porque existiam armas, sim: eram espadas. Um dia, vieram prendê-lo e um dos seus amigos pegou uma espada e cortou a orelha de um servo. Pois ele não foi lá e curou a orelha cortada? Isso porque a arma que ele tinha era o amor, foi isso que ele veio ensinar, isso era o que ele tinha pra oferecer. "O maior Mandamento é o Amor", ele disse uma vez, palavras dele. E teve muita gente que aprendeu, na época, mas dois mil anos depois, mesmo entre os que se dizem seguidores dele, isso já está fora de moda.
Uma pena. Se mais gente cuidasse da própria vida e, pros outros, espalhasse amor, com toda a certeza, já estaríamos em um mundo bem melhor. Mas cada um sabe de si, não é assim? Pois é. Só estou lembrando essas coisas porque hoje é aniversário dele e, por isso tudo, ele é uma pessoa que merece muito ser lembrada. E que faz uma falta enorme. Enfim, onde quer que você esteja, Jesus, receba o meu abraço. Saudades, mano.
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