Mares de asfalto quente em noites de verão, mares brilhantes de chuva,
Amarelados por antigas lâmpadas incandescendo-se em zumbido,
A cidade aberta ao voo errante das nossas liberdades recém-descobertas
E o mirante da montanha já vazio, embora ao longe ainda ecoassem risos e canções,
Em nosso peito os risos e canções também, mesmo os que não se mostravam,
Todas as peles, nomes, corações dançantes por trás das cortinas por trás das janelas
Por trás do ar molhado, vivo e negro da madrugada que era sempre um pequeno sempre,
Um lento e voraz encontrar de si
No universo vasto de apartamentos calados, quartos silenciosos com a sua poeira sorrateira
E objetos espalhados à espera, os nossos gestos preenchidos de amorosa materialidade,
Até que o tempo se dobrou, ninguém viu quando acordei sozinho desse sonho triste de saudades
E tudo seguia imerso e pulsante em profundezas e na superfície do meu corpo,
Só sei que era carnaval,
A brisa suave de outras terras encontrando uma passagem sem alarde pelas frestas,
Quem é este em meu lugar, não se pode desistir de viver tantas vidas simultaneamente,
E no entanto uma só alma, um só ter sido neste mesmo ser que em si não se divide,
Fantasmas coloridos,
Dois mundos em meus olhos, nada faz de um deles mais real, nada me faz não ver,
Nada me faz, um sopro se desprende no infinito interior onde somente eu habito.
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