sábado, 22 de abril de 2023

Na praça, a velha estátua amanheceu 
coberta de trapos coloridos, 
como se fossem uma roupa nova.

De todos os cantos sempre à vista 
e de onde mais se esperaria 
vieram sedentos e curiosos 
inaugurar os remendos na estrada 
que ainda leva aos mesmos lugares.

Nas mãos de uma criança, o peso do mundo 
é do tamanho da ausência de voos, 
e é grande demais para os meus ombros.

(Embora às vezes o coração descanse.) 
Assisto ao crescer da grama, esse 
misterioso mar de milagres minúsculos, 
e assim, porque sussurro, 
ainda não sou percebido.

Mas se enxergassem uma flor nascendo entre 
os intervalos do concreto, e não a devorassem 
plastificada e com logotipos anexos, então 
quem sabe 
não fosse este um castelo em ruínas.

Um gélido torpor. 
Um não-mover sem ar puro.

Se de repente — Olha, um poema! 
Trazendo uma prova de explosões serenas, 
ecoando sem rumo nas paredes das celas, 
inundando os afogados em calor renascente e fluido, 
alvoroçando as cores das auras, até que 
todos fecham os olhos 
e o poema passa, 
e tudo o que era vivo passa 
e apenas recomeçam a ranger as engrenagens.

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