Era um sussurro à margem das constelações. E escorria ainda quente, as letras súbitas sendo o seu leito.
Sabíamos — por isso apenas nossos dedos se enlaçavam, como o único dizer que nos bastava. Não se responde ao vento, não se pode habitar a trepidação dos sentidos, o poema é uma ilusão de ótica. Talvez por isso, muitos carregavam correntes, empilhavam pedras e tentavam disfarçar o cheiro de almas apodrecidas.
E se estivéssemos mais perto, mesmo que não no espaço, como poderíamos ter ajudado? Oferecendo uma flor à gravidade e ao tempo com que nos desabam? Afagando as mãos de onde somente brotam espinhos?
A liberdade é uma coisa muito dentro. Nada é mais longe.
Desde que nos reunimos em milhares de centros, desde que a nudez se revelou em todos os seus farrapos, esse cotidiano conformado não é mais do que um pequeno contratempo.
Não espere. É inútil chamar. Algo de nós pousou no impossível, e ali mesmo há de permanecer, perene.
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