Sou
você.
Ouço
teu coração batendo em meu peito quando fecho os olhos. Antes era uma selva
escura, um pântano habitado por mágoas incontáveis, nada mais nascia. Tua mão
segurou a minha, camarada, nos dias de maior desencanto.
Quando
eu já quase morria, tão único a ponto de achar possível que eu não merecesse a
Terra. Ao teu lado me deitei mais uma vez na grama – e as estrelas eram outras
e multiplicadas. Tua voz ressoava em mim tambores, ventanias e cascatas. Como é
nascer de novo com o mesmo nome em um mesmo corpo, oh sim eu pude vê-la quando
ela voltou, a vida, os raios de luz de muitas cores e de imensas asas
explodindo em risos, gritos, lágrimas de maravilhamento.
Você
veio, meu querido irmão, sentou-se ao meu lado no alto das chapadas e falou com
ternura sobre os pescadores em seus barcos no Rio São Francisco, e caminhou
comigo nas areias quentes e continentais do Nordeste e nos cafezais de Minas, e
bebeu comigo a água gelada que escorria das bordas celestes do Monte Roraima, e
chorou comigo aos pés do Monte Pascoal onde os Pataxós amam ainda os povos extintos
pela ganância europeia, e dançou comigo em bailes do Sul e em boates paulistas
e nos carnavais cariocas e perfumou de pitanga as minhas matas e do alto dos
arranha-céus me fez ver de novo os caleidoscópios da cidade – homens e mulheres
de todas as idades, etnias, línguas, crenças, profissões e nacionalidades
vieram repovoar a minha alma que era então inteira o teu amor que sempre esteve
em mim, o meu amor que sempre esteve nos teus versos que eu ignorava.
Sim,
serei leal enquanto vivermos.
Sim, eu te confirmo a
Eternidade.