sexta-feira, 21 de outubro de 2016

tropeçou em frases feitas sobre ser autêntico, desprezou, irresponsável, os donos da igualdade e da liberdade, ficou só, partiu em autoexílio por haver desrespeitado a lei do ser-alguém-na-vida elaborada pelos que não estão nem aí pros padrões da sociedade, artigo novecentos e doze, parágrafo oitenta, que diz: “nunca estarás de boas”.

ficou só. aprendeu a ouvir como se nunca tivesse ouvido, atravessou abismos só pra conseguir pensar como quem está do outro lado. despiu-se de si mesmo à procura da nudez absoluta – e hoje desconfia de que só se pode ter uma vaga ideia de como ela seja. “há muitos mundos no mundo”, diz. aprendeu a olhar como se nunca tivesse visto. ficou só, uma solidão maior que os números.

naqueles tempos de errar entre as cidades e as gentes, aprendeu a contar com os loucos que lhe apareciam vez ou outra dizendo vem cá me dá um abraço, ou vem comigo ali uma escada até saturno – mas ainda menos, muito menos do que isso: quando esbarrava em alguém na rua, quando em elevadores e ônibus lotados, quando alguém tocava em seus dedos na hora de entregar um troco ele engolia faminto o que tomava por migalhas de afeto.

não leva muito a sério nem as próprias máximas – mas aqui uma delas, que vem na esteira do que foi narrado: é infinitamente mais fácil ficar muito tempo sem sexo do que sem carinho.

e outra, que reorganiza uns dizeres muito conhecidos de quem vê a si mesmo como intelectual:

pessoas inteligentes entendem ideias.
pessoas espertas entendem das coisas.
pessoas sábias entendem pessoas.

3 comentários:

Anônimo disse...

Pessoas sabias também precisam de carinho...

Anônimo disse...

Autobiográfico??! Um amigo...

AM disse...

Quase sempre estou criando a partir da experiência pessoal, mas estou criando.