tropeçou
em frases feitas sobre ser autêntico, desprezou, irresponsável, os donos da
igualdade e da liberdade, ficou só, partiu em autoexílio por haver
desrespeitado a lei do ser-alguém-na-vida elaborada pelos que não estão nem aí
pros padrões da sociedade, artigo novecentos e doze, parágrafo oitenta, que
diz: “nunca estarás de boas”.
ficou
só. aprendeu a ouvir como se nunca tivesse ouvido, atravessou abismos só pra
conseguir pensar como quem está do outro lado. despiu-se de si mesmo à procura
da nudez absoluta – e hoje desconfia de que só se pode ter uma vaga ideia de
como ela seja. “há muitos mundos no mundo”, diz. aprendeu a olhar como se nunca
tivesse visto. ficou só, uma solidão maior que os números.
naqueles
tempos de errar entre as cidades e as gentes, aprendeu a contar com os loucos
que lhe apareciam vez ou outra dizendo vem cá me dá um abraço, ou vem comigo
ali uma escada até saturno – mas ainda menos, muito menos do que isso: quando
esbarrava em alguém na rua, quando em elevadores e ônibus lotados, quando
alguém tocava em seus dedos na hora de entregar um troco ele engolia faminto o
que tomava por migalhas de afeto.
não
leva muito a sério nem as próprias máximas – mas aqui uma delas, que vem na
esteira do que foi narrado: é infinitamente mais fácil ficar muito tempo sem
sexo do que sem carinho.
e
outra, que reorganiza uns dizeres muito conhecidos de quem vê a si mesmo como
intelectual:
pessoas
inteligentes entendem ideias.
pessoas
espertas entendem das coisas.
pessoas sábias
entendem pessoas.
3 comentários:
Pessoas sabias também precisam de carinho...
Autobiográfico??! Um amigo...
Quase sempre estou criando a partir da experiência pessoal, mas estou criando.
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