domingo, 21 de outubro de 2018

Era uma despedida e por isso a voz triste
Não tem como abraçar o fato de que fui feliz por conta própria
As ruas da madrugada a sensação de não saber mais muito bem o que é cidade o que é sonho
O silêncio na praça cheia de gente enquanto alguém cantava os números do bingo
O ar abafado a água fria do banho os banhos de rio no meio de uma tarde quente onde todas as tardes são quentes
Não tem como abraçar essa vontade que eu tive de ficar mais tempo
O velho que atravessou a rua pra falar comigo e que me chamava de Meu Curumim
Os curumins que me falaram da festa em janeiro e de peixinhos coloridos e dos sonhos que tinham com viagens pelo mundo
Conversas do cais, de barcos e barqueiros e animadas praias de areia muito branca na outra margem
Uma caixa térmica numa janela uma família entre tantas famílias vendendo dindin a 50 centavos
Nem me lembro do que foi
Que a dona da hospedagem perguntou enquanto apertava os botões de uma calculadora, mas
Quando respondi que sim
Ela levantou os olhos
Falou Você me disse um sim tão triste
E não eram as despesas
Não tinha como abraçar a dona da hospedagem do outro lado do balcão
Era uma saudade antecipada
Quando é que você volta? – ela me perguntou
E a única coisa que eu tinha vontade de responder era
Agora

Um comentário:

Anônimo disse...

Uau!!!! Lindo!!!!