–
Não posso dizer que sou uma grande fã dos Engenheiros do Hawaii – disse Eva –
mas tem lá umas letras deles que eu gosto.
–
Por exemplo? – perguntei.
Ela
não demorou muito pensando.
–
“As coisas mudam de nome, mas continuam sendo o que sempre serão” – cantou.
Aqueles
poderiam ser uns dos meus versos preferidos, também, mas naquela tarde, não
tinham muito a ver comigo. Desde que havíamos chegado ao Norte, eu tinha a
impressão de que estávamos em outro mundo – um mundo que até então eu nem
imaginava que existisse. Estava imerso naquela sensação e apaixonado demais pra
concordar com ela.
–
Tem um poema do Drummond – lembrei – que fala das viagens espaciais e de como o
homem vai explorando, conquistando e colonizando o espaço, lembra disso?
Colonizando tudo, se espalhando pelo Universo, até não ter mais lugar nenhum
pra ir.
–
Sim – disse Eva. – Até que a única coisa que reste pra explorar e conhecer seja
o próprio homem.
Fiquei
em silêncio por um instante, pensando naquilo tudo e deixando os pensamentos me
levarem.
–
Acho que nunca mais vou morar no Sul – contei.
Foi
a vez dela ficar em silêncio. A questão retomava algumas conversas que tínhamos
tido antes, em que ela criticava os sulistas pela cultura muito branca e
burguesa, uma ilusão de se estar na Europa e um ar nojento de
superioridade em relação ao resto do Brasil. Palavras dela. Entendi que ela não
tinha mais nada a acrescentar sobre o assunto, então continuei:
–
Às vezes, queria que o Sul não estivesse tanto em mim, também.
Ela
sorriu.
–
Longe, longe, longe aqui do lado – disse.
Confirmei com a
cabeça, um pouco triste. Nossos pensamentos também têm sotaque, e eu não queria
mais pensar em nada. Queria mesmo era ser refeito pelas águas do Amazonas. Queria
mesmo era que aquelas gentes me reinventassem.