segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

pensando que

talvez se eu arrancar meu coração rasgar em pedaços atirar ao fogo sapatear sobre as cinzas

dançamos abraçados músicas românticas em muitas festas de garagem

descemos a serra do mar andando pelos trilhos e depois voltamos clandestinamente embarcados entre dois vagões

numa noite fria de neblina em mil novecentos e noventa e oito vimos um amigo se jogar pra morte do alto de um prédio condenado

hoje passo muitas horas nesta mesma sala encarando reproduções baratas e pequenas demais de frida kahlo

se eu aprendesse a fazer poesia

já tem um tempo que eu sinto este nó na garganta e se ele desatar inunda

conheci uma menina que escondia a própria vida em uma espécie de coração subterrâneo

e um velhinho que não conhecia mais que as cinco ruas da pequena vila em que sempre havia morado

vi amigos se casarem e se separarem e ajudei a cuidar de seus filhos pra que eles crescessem sabendo que eram capazes e muito queridos

minhas forças terminaram

estou farto de ver nascerem sonhos belos só pra depois eles serem estraçalhados outra vez contra os rochedos

bons momentos engolidos pelo tempo intocáveis dentro da fumaça negra das saudades sem esperanças

eu não suporto mais carregar sozinho

estou morrendo de carregar sozinho

e fico aqui pensando que

talvez

se um meteoro quem sabe

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito deprimente...������