terça-feira, 30 de abril de 2019

Um vento frio demais pra Salvador, um céu muito cinza, seis formigas no lençol, manhã no meio, o vento procurando frestas na janela, um livro deixado de lado, o café deixado de lado, os afazeres do dia, um vento assoviando alguma coisa que eu não quero ouvir, que eu já escutei demais, que eu quero beber até o último som.

Sou ainda o mesmo espaço vazio por onde passo, tudo acontece a mim e nada é pessoal, parece que é só isso, depois não, dói, dá prazer, decorre e, às vezes, como agora, nada se move no mundo da pequena paisagem da janela do quarto, exceto as folhas das árvores, exceto a poeira das ruas, exceto o como um sopro faz pra se mostrar quando sopra.

Melancólico demais pra Salvador, o dia avança com pressa enquanto eu ainda me espanto, queria poder não pensar nem sentir tanto, queria experimentar de tudo, tenho trinta e quatro centavos e uma pia cheia de louças, a qualquer momento alguém me abraça, um dia a gente se encanta, a dança segue imóvel e em paz de mesmo assim poder ser dança, a vida nem sempre é triste, mas vive a cada instante, e é de verdade em cada parte, e arde, e anda.

Um comentário:

Anônimo disse...

Vento frio sempre traz melancolia...