Um vento frio demais pra Salvador, um céu muito cinza, seis
formigas no lençol, manhã no meio, o vento procurando frestas na janela, um
livro deixado de lado, o café deixado de lado, os afazeres do dia, um vento
assoviando alguma coisa que eu não quero ouvir, que eu já escutei demais, que
eu quero beber até o último som.
Sou ainda o mesmo espaço vazio por onde passo, tudo
acontece a mim e nada é pessoal, parece que é só isso, depois não, dói, dá
prazer, decorre e, às vezes, como agora, nada se move no mundo da pequena
paisagem da janela do quarto, exceto as folhas das árvores, exceto a poeira das
ruas, exceto o como um sopro faz pra se mostrar quando sopra.
Melancólico demais
pra Salvador, o dia avança com pressa enquanto eu ainda me espanto, queria poder
não pensar nem sentir tanto, queria experimentar de tudo, tenho trinta e quatro
centavos e uma pia cheia de louças, a qualquer momento alguém me abraça, um dia
a gente se encanta, a dança segue imóvel e em paz de mesmo assim poder ser dança,
a vida nem sempre é triste, mas vive a cada instante, e é de verdade em cada
parte, e arde, e anda.
Um comentário:
Vento frio sempre traz melancolia...
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